W Magazine 2003
Ela tem concorrentes atualmente. Mas com um novo olhar, um novo álbum e sem Justin Timberlake, a princesa do pop planeja reformar o trono.
A maioria dos seus contemporâneos pode ter se contentado com seus uniformes corporativos, mas Britney Spears ainda se parece muito com Britney Spears - o que, para uma mulher de 21 anos, é um pouco alarmante. Mesmo com 50 milhões de cópias vendidas, Spears deveria exatamente agora estar tremendo em seus Skechers rosa choque encrostado de jóias. Com seu ex-namorado, Justin Timberlake alcançado o sucesso com seu álbum solo e fazendo uma turnê esse verão com Christina Aguilera, o pop adolescente parece estar tendo uma segunda reformulação mais sofisticada - sem ela. Depois de uma estreita evolução ao longo de três álbuns —- de uma corruptível garotinha colegial a uma confusa, saudável stripper sulista, e com um vislumbre de algo mais forte e mais expansivo em seu terceiro trabalho, Britney — Spears não tem escolha a não ser empurrar seu passado em que ela estava indecisa cantando no seu último single, a tocante balada Not a Girl, Not Yet a Woman.
édio de 12 andares próximo ao mar, muito do que ajudou a levar o fenômeno pop adolescente dos últimos dezenove anos - Britney Spears é aquela garota não tão familiar: o ícone garota-mulher, vivaz e quase assustadoramente perfeita (mais pessoalmente que na TV), com uma pele ótima e grandes, vivos olhos enterrados em algum lugar embaixo de uma grossa camada de máscara escura. Ela está vestida com o clássico modo-Britney-de-se-vestir: um dramaticamente minúsculo top preto e branco preso por uma tira no pescoço, abaixo de sete polegadas de abdome, calças baixas pretas seguradas por suspensórios pretos e rosas. Há um boné de baseball grande, branco, de Patricia Field em sua cabeça e um longo colar de bijuteria pendurado até a altura do umbigo. (Ela não vai, como alguns de seus rivais Billboard, à joalheria de Fred Leighton.)
Não seja tolo, entretanto: a nova Britney está nesse instante trabalhando em um estúdio em Flower District - e é lá que Spears tem estado o dia todo, trabalhando duro em seu quarto álbum. “Esse álbum todo tem sido um experimento enorme para mim”, ela diz, sentando em um banco de jardim em seu terraço - e depois caindo no chão, em cima de algumas almofadas. “Aluguel”, ela percebe com uma risada que ela nunca tem medo de dirigir a si mesma. “Todos com quem eu trabalhei, eles têm essa percepção, essa visão de mim, e um monte de vezes eu estou tipo, ugh! Eu levei um tempo até encontrar a vibe certa e os produtores que realmente me entendessem. Estou nervosa, empolgada, mas, woww!”
Artistas de estúdio sentem uma constante pressão para manter o que a equipe na gravadora de Spears, Jive Records, chama de fator-Q: o estouro de músicas comerciais no início da carreira do cantor. Ninguém teve mais fator-Q do que Britney Spears, mas ela parece entender que popstars crescem de um modo diferente das outras pessoas e que ela precisará fazer alguns truques novos se quiser defender sua coroa da canadense anti-Britney de 18 anos, Avril Lavigne. “Eu amo o trabalho da Avril pra caramba” Spears insiste. “Ela arrasa.” Mas ela segue adiante, revelando um toque de competitividade. “A Avril na verdade não dança, mas enfim. É estranho. Meu terceiro álbum vendeu tanto quanto o primeiro dela, o que é muito engraçado para mim porquê todos pensaram que ele não venderia tanto.” É claro, de qualquer maneira, que o novo trabalho de Spears, que será lançado no final de outubro, irá deixá-la ainda mais próxima daquele pop Valhalla cujo único espírito atualmente é Madonna, ou provar com um empurrão definitivo que a bola do chiclete-pop finalmente estourou.
Spears prefere não supervalorizar seu lugar no cenário pop. “Não é tanto assim”, ela diz, rindo, enquanto estende as unhas dos dedos para uma manicure que apareceu de repente no terraço. Ela não é bem o doce de leite que parecia ser há exatamente cinco anos atrás e ainda não há nenhuma estratégia de carreira definida - nenhuma força é mais obscura do que a força do desenvolvimento adolescente - para fazer de Spears mais complexa e sofisticada. O ponto principal da carreira dela parece ser toda a notoriedade em um momento em que alguns críticos estão começando a questionar se Madonna finalmente perdeu seu posto.
“Madonna, acabada?” Spears relincha, incrédula. (O aumento da emoção aumenta o gritinho no sotaque da Louisiana.) Depois ela reflete por um momento. “Honestamente, é por isso que eu trabalho tanto - porque esse é um medo que eu tenho para mim”, ela diz. Ela pausa e dá um longo gole no seu Red Bull. “Sempre haverá pessoas que não te amam, e de fato, eu meio que gosto das pessoas como Madonna, que faz declarações do tipo que ou as pessoas vão amá-la ou odiá-la. Eu não quero ficar no meio. Eu acho isso chato.”
Só mesmo o leitor de tablóide mais acostumado com as notícias ficaria entediado com os fatos da vida de Spears nos últimos anos. Seu relacionamento de dois anos com Timberlake fez o casal mais famoso da música desde Kurt e Courtney, e ela ficou visivelmente chateada pelo rompimento e com a confusão que a mídia fez ao redor do caso. “A coisa mais dolorosa que eu já experimentei foi o rompimento”, ela diz. “Nós ficamos juntos por tanto tempo e eu tinha essa visão. Você acha que vai passar o resto da sua vida junto com ele. De onde eu venho, a mulher é a que cuida da casa, e foi assim que eu fui educada - você cozinha para os seus filhos. Mas agora eu percebo que eu preciso do meu tempo de solteira. Você tem que fazer suas próprias coisas: amar você mesma, sabe. Eu sei que parece clichê e idiota, mas eu realmente acredito que se é para ser, será.”
Para uma mulher jovem de quem a virgindade assumida foi examinada pelo microscópio da mídia, Spears é surpreendentemente franca sobre Timberlake. “Eu só dormi com uma pessoa durante a minha vida toda”, afirma — quebrando em pedaços os sonhos pervertidos de Humbert Humberts e mudando a direção da repetida história de sexo só depois do casamento. “Foram dois anos dentro do meu relacionamento com Justin, e eu achava que ele seria o único.” Ela pausa e a voz dela muda. “Mas eu estava errada! Eu não achava que ele iria na Barbara Walters e me venderia.”
Spears, como todo amante da cultura-pop sabe, adquiriu um tipo de sensualidade explícita que parece ser regida na mesma respiração quente. Ela vestiu um macacão de dançarina no palco e falou seu diário de orações em entrevistas; ela cantou sobre como ela “não é tão inocente” enquanto regularmente se posicionava contra o sexo pré-nupcial. “É uma oscilação - é isso que ela fez tão habilmente”, diz Barry Weiss, presidente da Jive Records. “Britney é uma boa garota, mas quando vem o microfone no estúdio, ela se torna uma mulher sensual. A música literalmente a transforma. É uma coisa louca de se ver.” É esse o teatro erótico montado pela maioria das estrelas infantis, que chegam ao topo antes de se tornarem adultos conscientes dos próprios atos, e depois se encontram congelados, como adultos, na infância.
“O legal do meu novo álbum é que havia uma pontinha de sensualidade no Britney, mas nesse eu meio que chego lá um pouco mais, abro um pouco o envelope”, ela diz ainda, depois aumenta o tom de voz. “Mas isso não é ousadia! É meio que sexualmente pronto. Eu acho que quando as coisas estão muito na sua cara, então não existe sutilidade nisso.” Ela pausa, voltando atrás no que havia dito. “Ousadia pode ser divertida, mas, só às vezes.”
Verdadeira o suficiente, mas o momento pede por algo um pouco mais cosmopolitano. As fotos que acompanham este artigo sugerem que é de J.Lo, afinal de contas, que a crescida Spears pode estar seguindo os passos. “Eu amo J.Lo”, ela diz. “Eu sou totalmente inspirada por ela. Mas é no conjunto que eu erro um pouco. Eu não gosto de nada muito planejado. Normalmente eu só visto o jeans apertado e a blusinha, sei lá. Mas às vezes eu quero vestir um vestido cheio de lantejoulas e ser garota pra valer! A W fala muito sobre enxergar você mesma como uma deusa, então eu quero totalmente fazer isso.” O que não é dizer que ela ainda não é a Britney. “Honestamente, porém”, ela acrescenta repentinamente, “se todo mundo pensa que eu vou sair por aí e ser mulher, eles estão errados.”
Próximo a um grande fator de glamour, o novo álbum deixa Spears fazendo um uso mais ambicioso de produtores de peso (ou, mais exatamente, compositores). O papel deles não pode ser subestimado, e no caso de Spears, claramente todo nome nessa área que luta por um pedaço da torta. Ela ficou longe do onipresente Neptunes - que produziu o hit influenciado-por-house I'm a Slave 4 U - e no lugar dando a Redzone, um nativo de Atlanta, a oportunidade de produzir algumas grandes músicas dance que definem o sentimento up-tempo do álbum. Spears fica especialmente grata pela colaboração: as palavras dela, os rítmos. “Eles são as primeiras pessoas com quem eu já trabalhei onde eu estou ouvindo as músicas fora do rádio”, ela diz. “Onde eu estou, tipo, é! Eu estou acrescentando coisas... sozinha. E é estranho. Eu nunca fiz isso antes.” O trabalho também deve incluir faixas de Metro, os produtores ingleses responsáveis pelo sucesso noturno de Cher, Believe, e The Matrix, produtores dos maiores hits de Avril Lavigne. P. Diddy e Moby também estão no projeto. “A música que nós fizemos é reflexiva e atmosférica”, Moby escreve em um e-mail. “É muito simples e, por falta de uma palavra melhor, sexy.”
Um choro distante, certamente, vindo da empolgante versão de Nothing Compares 2 U de Sinéad O'Connor que uma Spears de nove anos de idade ofereceu uma vez da cama elástica da família em Kentwood, Louisiana (população de 2.500). Naquela idade, Spears havia provado a si mesma que era uma performer tão determinada, que sua mãe, Lynne Spears, decidiu dizer adeus a Kentwood e levar a filha à Nova York para se matricular na Escola Profissional de Artes Performáticas. Dentro de um ano, Britney havia conquistado um papel numa peça da Broadway e ganhou um concurso de talentos. Então, quando tinha 11 anos, ela se mudou para Orlando, Florida, para se juntar aos futuros teen-popstars Justin Timberlake e Christina Aguilera no programa de TV The Mickey Mouse Club. “Aquela foi a melhor experiência infantil que você poderia ter na sua vida inteira”, ela diz. “Quer dizer, você vive no Disney World!” Alguns anos depois, os Backstreet Boys e as Spice Girls estavam saturando as ondas de rádio, e Spears assinou um contrato.
“Eu teria ficado furiosa numa sala de aula”, ela diz. “Aquilo não era para mim. Eu comecei a estudar em casa depois da oitava série, e eu nunca tive experiência na escola, no colegial. Eu acho que quando eu enfrentei uma fase de festas no ano passado, foi porque eu não tive a oportunidade de ir para as festas no colegial - sair e ser estúpida.”
O que é uma pena, já que Spears adora agir como uma idiota. Ela arrota antes de dizer como uma dama, “Me desculpe”, faz um barulho alto de respiração enquanto ri, adora falar com sotaques idiotas e diz coisas só porque elas parecem engraçadas para ela. “Por que eu continuo dizendo ‘na área?’” ela pergunta com um gritinho. “Eu não sei o que isso quer dizer. É como minha forma do gueto de alguma coisa.” (Os fãs do Snoop Dogg saberão que é uma forma de dizer “chegando”).
“Ela tem 21 anos, e é isso que as pessoas esquecem”, diz a melhor amiga dela, Jenny Morris, que pode cantar como backing vocal na próxima turnê de Spears. “Nós brincamos com isso o tempo todo - ela sempre diz, ‘Se eles simplesmente soubessem que eu sou uma grande idiota.’ Ela adora fazer piadas sobre si mesma. Eu acho que ela realmente esquece o quão grande a vida dela é.”
A mídia também parece passar por cima da juventude de Spears quando listam suas escapadas: histórias sobre Britney ficando bêbada e dançando em cima das mesas têm feito as manchetes dos tablóides de Nova York desde que ela tem passado mais tempo na cidade desde o último ano. Ela jura que a verdade é menos interessante. “Eu queria que minha vida fosse desse jeito!”, ela diz. “Honestamente, eu muito provavelmente iria ao Crunch ou deitar em minha banheira e ficar olhando as bolhas.” Sério, Britney? “Bem, houve uma noite há três anos atrás. Eu não dancei em cima da mesa - foi em cima do sofá. E todos estavam subindo, o clube inteiro estava, e eu subi por alguns segundos, e então agora eu sou uma garota louca e eu subo em cima das mesas. Julia Roberts, ela fez isso também! Me escute, eu estou desabafando. Sim, ela fez - droga, é!”
É difícil não acreditar em Spears quando ela insiste que a mídia floreou seu lado maluco, se apenas porque - atualmente, pelo menos - ela se esforça tão pouco seu comportamento menos reservado. “Eu nunca escondi nada”, ela diz, pegando o acendedor rosa, com imitações de diamante Versace, acendendo o cigarro e encolhendo os ombros quando perguntada sobre o porquê dos tablóides terem feito tanto alarde com o fato de ela fumar. “Foram as pessoas ao meu redor que estavam me escondendo. Pessoas da minha equipe me ligavam e falavam, ‘Oh meu Deus! Isso está nos jornais.’ E eu falava tipo, ‘Legal’ Quer dizer, o que você vai fazer? Eu acho que se eu sentasse lá e tentasse esconder, iria parecer meio estúpido. Honestamente, porque eu sei que não deveria fazer isso, me faz querer fazer.”
E quanto à sua vida sexual, Spears tem algumas notícias que podem causar uma polêmica nacional. Garotos americanos (e Fred Durst especialmente) não a interessam mais; Espanha e Austrália, ela diz, têm os caras mais atraentes e menos “chatos”. Oh, e Irlanda - via Hollywood. Os rumores sobre Collin Farrell eram verdadeiros, ela reconhece: “Sim, eu beijei ele. Claro que eu beijei! Ele é a coisa mais linda, sexy do mundo - woow! Ele é tão bad boy. Mas não foi nada sério.” Desde Farrell, as necessidades dela ficaram ainda mais básicas. “Sério, eu não tenho saído com nenhum cara por um longo tempo, e eu estou mesmo desejando... só um beijo, cara. Só um beijo seria legal.”
Só um beijo? Agora que a atuação de inocente supostamente acabou dando lugar à maquiagem e brilho e Spears nem se parece com a mulher que ela ameaçou ser aos 17 anos, um pequeno doce olhar parece quase regressivo. De fato, ela tem uma grande chance agora de imitar seu ídolo profissional, Madonna, redefinindo si mesma - afiando o talendo, remodelando a imagem e refletindo as emoções dos fãs crescidos. Foi Madonna, afinal de contas, que disse que Spears tem sido vítima do mesmo esnobismo do qual ela foi vítima nos anos 80 - e se Madonna deu seu último grito, então ela também pode.
Spears claramente pede por uma nova chance de defender suas críticas. “Se o trabalho é bom - se é quente e você vê o vídeo e nós estamos trabalhando nele, é basicamente dizendo o Dane-se para todos”, ela diz. “E eu acho isso legal.”
Lançamento: agosto/2003
Autor: Robert Haskell
Tradução: Gustavo Lemes
Fotos: Mathew Rolston
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